Tudo a seu tempo e sempre haverá tempo para tudo. Essas palavras talvez lhe causem estranhamento. Eu entendo. Há alguns dias atrás eu mesma riria disso, como quem se diverte com a ingenuidade de uma criança, dizendo “Ela não sabe o que diz. Ela ainda desconhece a vida”.
Será mesmo? Será que isso é desconhecer a vida? A grande verdade é que o tempo já regia a vida e a natureza antes mesmo que a raça humana sonhasse em dar o ar da graça no planeta.
Os nossos antepassados sabiam disso. Eles reconheciam, valorizavam e até reverenciavam o tempo. Tempo este que passou do papel de divindade a vilão da atualidade.
“Tempo é dinheiro” “Faça o tempo trabalhar para você” “Mais, em menos tempo”. De repente, a vida tem pressa. Não há mais tempo a perder. Tudo tem um prazo. Uma fração de segundo muda tudo. Cada minuto ocioso é tempo desperdiçado.
O tempo se tornou algo mal. Ladrão de vitalidade, de resultados. Objeto da nossa tentativa de dominação e que precisa ser preenchido em cada milésima fração.
“O tempo passa rápido demais.” “O tempo não passa nunca.” Vivemos numa relação louca com o tempo e já nem sabemos mais o queremos dele. A única certeza é que queremos controlá-lo, dominá-lo, tornarmo-nos seus senhores e fazê-lo seguir o ritmo da nossa vontade.
Quando foi que as coisas se inverteram dessa forma? Quando deixamos de compreender, apreciar e agradecer ao tempo, e passamos a tentar fazê-lo caber na nossa necessidade infantil de ter tudo o que queremos, no momento em que desejamos?
A única certeza é que precisamos repensar essa relação. Revisitar nossas expectativas, nossa necessidade de controle, reaprendermos a respirar, a apreciar, ouvir o silêncio e devolver ao tempo o papel que lhe cabe: reger a existência com sua sabedoria eterna.
E enquanto isso não acontece, o tempo nos olha e sorri, com a sabedoria e paciência de quem a tudo conhece e de tudo cuida. Ele sabe esperar. E, tranquilo, aguarda o momento em que, exaustos, desistiremos dessa luta sem sentindo e buscaremos uma reconciliação, dando a ele o espaço necessário para conduzir a vida como só ele sabe fazer. Quando esse dia chegar, grato, ele nos devolverá a paz e nos aliviará do peso da ansiedade e sofrimento que ainda insistimos em abraçar.